segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Poucos ganham muito, muitos pedem esmolas

Não diferente da realidade social brasileira, os músicos, em sua grande maioria, enfrentam duras dificuldades para sobreviverem a partir de seu trabalho. E quando uso o termo “trabalho”, o faço propositalmente, na tentativa de derrubar um estigma produzido por uma sociedade que, muitas vezes, diz: “Mas desde quando ser músico é ser trabalhador?”.
Parece até exagero, mas uma grande parcela da população pensa dessa maneira, não enxergando (ou por não conseguir, ou por não querer) que músico trabalha, sim. E muito.
Quando um músico é visto tocando ou cantando em um baile, por exemplo, pouco se pensa no esforço e na mão-de-obra empregada por este para que tal evento fosse animado ao som de uma música ao vivo. E pra piorar, é provável que você pergunte a um baladeiro “Que banda animou o baile X?” e ele te responda “Não sei.”.
Não bastasse essa desvalorização moral, que “detona” a alma de qualquer músico, ainda existe a desvalorização financeira, que destrói qualquer possibilidade de subsistência desse profissional. São escassas as exceções que conseguem dizer: “Sustento minha família a partir da música”. Dentre a escassez a que me refiro, pode-se incluir apenas os músicos que trabalham ao lado de grandes artistas e os próprios artistas que se destacam nacionalmente e internacionalmente, de uma forma, ou de outra. Os demais, que representam uma maioria maciça, “pedem esmolas”.
É triste dizer isso, mas é assim que as coisas funcionam. Enquanto “fulanos” ganham fortunas fazendo shows que duram no máximo duas horas, “beltranos” tocam e cantam por horas a fio nos “botecos da vida” a troco de cachês que prefiro nem comentar (e olha que em porta de bar tem gente mais talentosa que muito artista famoso que a gente vê por aí...).
Tudo isso é reflexo daquele estigma citado no início deste artigo. Um estigma social reproduzido por presidentes de clubes, contratantes de casas noturnas, donos de bares e restaurantes, etc, etc, etc.
Poderia aqui fazer menção a inúmeros nomes de artistas locais que merecem o respeito do público por seu talento. Não o faço para não cometer injustiças. Mas peço a você, amigo leitor: da próxima vez que estiver em um ambiente onde lá estiver um músico, tocando ou cantando, olhe-o com mais apreço. Seu talento é digno de aplausos.
E vocês, contratantes, valorizem o profissional que é, sem dúvida, o principal responsável pelo sucesso de seus eventos. Sem ele, tenha certeza, suas “baladas” seriam um fracasso. Todo músico merece ser valorizado, e não “receber esmolas”.

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